Há algumas semanas, ocorreu o maior evento da Herpetologia (estudo de anfíbios e répteis) Brasileira, o X Congresso Brasileiro de Herpetologia. Durante uma semana, pessoas de diferentes lugares do Brasil e do mundo interagiram falando sobre seus trabalhos com esses animais. Foi uma experiência incrível! Pude conhecer, pessoalmente, pessoas queridas e abraçar mulheres inspiradoras, como as demais integrantes da H2H, atuais e honorárias. Ministrei um minicurso sobre Divulgação Científica, uma oportunidade de compartilhar o que aprendi e aprendo todos os dias na H2H. Palestrei sobre os comportamentos dos girinos anuros no Workshop “Girinos do Brasil” ao lado de profissionais que admiro muito! Apresentei resultados do segundo experimento do meu mestrado em uma sessão de pôster. E foi nesse momento que, mais uma vez, fui vítima do machismo estrutural. Apesar de eu estar vestindo uma camiseta com a seguinte frase "The best man for the job IS A WOMAN" fui completamente ignorada por um homem que estava falando do MEU trabalho com outro homem na minha frente.
Vem cá, me deixa explicar o que aconteceu. Estava na frente do meu pôster e dois homens vieram conversar comigo sobre o meu trabalho. A conversa estava agradável, com dúvidas e sugestões dos colegas sobre o comportamento dos girinos frente aos predadores. Papo vai, papo vem, notei que um dos homens parou de olhar e falar comigo, mas seguiu conversando sobre o MEU trabalho com o outro homem, ignorando por completo a minha existência. Admito que demorei alguns segundos para entender essa situação absurda! Afinal, quem diria que a incidência de comportamentos machistas é tão alta dentro do meio acadêmico quanto fora dele!? Pode ser ingenuidade da minha parte, mas eu realmente não esperava passar por uma situação como essa em um evento científico. Não falei com esse homem no momento do ocorrido porque, de fato, precisei de um tempo para processar e digerir aquela situação. Após alguns dias, o procurei para conversar sobre o acontecimento porque me senti extremamente desrespeitada e não queria que aquele comportamento fosse reincidente. Para minha surpresa, a reação dele frente a minha reclamação - que foi extremamente amigável e ponderada - foi péssima. Ele NÃO admitiu o comportamento machista e, ainda, questionou a minha “insinuação de que ele foi machista”. Acho que vocês podem imaginar o quão espantada eu fiquei! Em um determinado momento da conversa, ele disse algo que ainda está ecoando aqui na minha mente: “Desculpa por não te dar atenção”. Na hora, muito chocada com o desenrolar da conversa, não pude responder, mas aqui está a minha resposta: Eu não quero e nunca quis a sua atenção! O que eu quero é ser RESPEITADA! Sabe aquele respeito que você oferece aos seus semelhantes, isto é, pessoas com pênis como você?! É esse respeito que eu quero! Espero, de verdade, que ele compreenda o problema naquele comportamento e que essa situação não se repita com nenhuma outra mulher.
Yasmim Mossioli
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